Uma vez me perguntaram se meus textos não interferem na concórdia de meus relacionamentos. Respondi que dava os ombros, pois gostava muito mais de escrever que de mulher. Mentira. A pior de todas as minhas mentiras. Se ganho dinheiro escrevendo e o gasto com mulheres, tá claro. Damas primeiro.
Quando tive de escrever sobre desfiles de moda, engraxates ou governadores de estado me via achatado, infausto, suprimido. Encontrei o bônus ortografando a mulher. No fim, a isso se resume minha vida. Mulher, mulher, mulher.
Eu durmo pensando em mulher, acordo pensando em mulher, tomo café, banho de açude, jogo futebol, vou ao cinema, trabalho, depilo a virilha, assisto o pôr do sol pensando em mulher. Até quando estou com mulher ou dentro de uma, ainda assim penso em mulher. Ok, exceto se preciso retardar o gozo, aí penso no Grêmio de 83 ou no Pedro de Lara. Mas mulher é meu Transtorno Obsessivo Compulsivo irremediável, com a graça de deus. Nem a Maria Bethânia me bate. Gosto delas em todos os níveis possíveis, passíveis e admiráveis. E não falo somente de sexo.
Gosto quando são mães e notam nossas camisas amarrotadas, ordenam dezessete vezes pararmos de roer unha, recolher a toalha úmida da cama. Gosto da amiga que finge entender se você conta sobre um trabalho que fez de social media marketing. Da mulher filha que fica de beiço se você recusa uma massagem. Da namorada que liga pra você com saudade no meio da tarde. Da "puta", perseguindo o transe torturando o lábio inferior com os olhos tontos e ofegantes.
Gosto de mulher quando tá com ciúme, menstruada, mentindo pra si mesma, fazendo cena, chorando baixinho, com cheiro de xampu, suada da academia, com dor de dente, discutindo com o cortador de frios, descalça, de salto alto, se olhando no espelho, cozinhando, produzida pra festa, caminhando de sutiã pela casa, cantando Vanessa da Mata, Rangel ou Camargo.
Adoro porque são tudo que jamais serei, porque dentro delas tem um relógio despertador que não as deixa esquecer que sem amor não tem graça viver, porque fazem eu me sentir desse tamanhozinho quando arregaçam suas emoções.
Nem me importo se me fazem sofrer feito o Tim Maia, amo tudo nelas. Suas confusões mais inusitadas, seus coquetéis bioquímicos explosivos, seus contraditórios pedidos de desculpa depois de meia hora dizendo que faço tudo errado, que sou o fator de seus cabelos brancos. Amo dentes, franjas, canelas, nucas, pernas, calcanhares, cada dedinho do pé, cada pelo, cada cheiro, cada tonalidade, cada curva, cada sorriso, cada manhã que acordo com uma por perto.
Falando nisso, não consegui vislumbrar se o dia em que me casar será o mais feliz ou triste da minha vida. Feliz, porque vou me juntar a uma pelo resto da minha vida. Ou triste, porque vou me juntar a uma pelo resto da minha vida. Bom, não sei e também nem quero pensar nisso. Quero pensar em mulher. Porque mulher é bom pra cacete. Aliás, se deus inventou algo melhor, tenho até medo de saber.
Fonte: www.carascomoeu.com.br
Toronto, Parte II
-
Neste segundo momento de Toronto, começamos pela Casa Loma, ou casa da
colina. O palacete era de uma família de financistas, e data de 1911. Foi
durante an...
0 comentários:
Postar um comentário